04/04/11

abril 2011 - pais e filhos


Estávamos à conversa, os quatro…
– E o Pedro? – perguntaste-me.
– Sabes como é, tem sempre aquela postura calma, fala com brilho nos olhos, conta as coisas com magia… Incrível! Quando o oiço, penso que a vida é mais simples, mais divertida. Ele consegue espalhar tranquilidade, não sei como…
Um silêncio atravessou-se na conversa.
E foi nesse momento que o Rui, nos seus doze anos tímidos, nos ensinou:
– O Pedro é daquelas pessoas que tem um sorriso por dentro…
(texto: Margarida Fonseca Santos; ilustração: Francisca Torres) 

03/04/11

abril 2011 - pais

A rua deserta, o ar pesado. Ao longe, sons de passos apressados. Revolveu-se, por dentro e por fora. A noite aborrecia-o sempre, esquecendo a ladainha do dia. Um novo som, desta vez mais enigmático, aproximou-se. Um andar desarticulado, desarrumado, como se a cadência do andar mostrasse como a vida o cadenciara. Observou-o com atenção. O coxo cruzou-se com ele sem lhe dirigir a palavra, sustendo a respiração para evitar o cheiro da pobreza. A noite continuou, deserta.
(texto: Margarida Fonseca Santos; ilustração: Francisca Torres)

01/04/11

abril 2011 - filhos


Era uma vez um caracol. Estava encalhado no canto de um jardim, coitado. Quando tentava fazer marcha-atrás, havia sempre alguém que se queixava: “Hei!”, “Olha aí!”, “Cuidado!”. Era um caracol sem espelho retrovisor...! A certa altura, passou por ali um escaravelho luzidio. Quando viu aquela atrapalhação, pôs-se à frente dele. Assim, o caracol, olhando pela carapaça do escaravelho, conseguiu virar-se ao contrário. Que alívio! Ainda hoje todos os caracóis sabem que, para fazer marcha-atrás, só de escaravelho...
(texto: Margarida Fonseca Santos; ilustração: Francisca Torres)